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terça-feira, 26 de abril de 2011

Matéria: Conflitos da nova familia

Conflitos da nova família



Fonte: Revista Epoca
Martha Mendonça e Mariana Sanches

O modelo clássico de família, em que o casamento era visto como uma instituição indissolúvel, começou a ruir na segunda metade do século passado.

Quatro anos atrás, em reportagem de capa sobre as “novas famílias”, ÉPOCA afirmava que a instituição familiar tinha se adaptado aos novos tempos e que havia lugar para a igualdade e o respeito entre todos os integrantes. Isso continua a ser verdade. Na maioria das famílias, “ex”, padrastos e enteados convivem em paz. O caso Isabella é uma raríssima exceção em que o conflito parece ter desembocado em uma violência incomum. Por sua estúpida brutalidade, fez lembrar que as transformações da família são fonte de conflitos nem sempre declarados, que podem vir à tona a qualquer momento. É particularmente chocante, nesse sentido, o contraste entre a cena harmônica do pai de Isabella, sua madrasta e seus meios-irmãos de mãos dadas, fazendo compras no supermercado, e o crime bárbaro cometido horas depois, pelo qual o casal foi indiciado.
Novas famílias em três categorias:


– a “neotradicional”, em que os casais têm uma relação extremamente sólida. As questões dos filhos de um lado ou de outro são resolvidas de forma cúmplice e firme, em parceria. Essas famílias não têm expectativas de perfeição e aprendem com os erros. Costuma ser a que dá mais certo, mas é também a mais rara;

– a “matriarcal”, em que a mãe é a figura central do grupo e o novo marido, padrasto de seus filhos, tem o papel de companheiro, mas mantém distância da rotina e da educação das crianças;

a família “romântica”, em que se espera o mesmo padrão de afeto da família nuclear tradicional – e por isso seus membros não reagem bem aos conflitos normais desse tipo de arranjo. É nesse tipo, segundo Bray, que costuma haver a maior parte das separações. Casais que decidem formar uma nova família, segundo ele, precisam fazer uma espécie de “planejamento”. “Discutam o que caberá financeiramente a cada um, deixem claro o que cada um pode ou não pode em relação aos enteados. E, sobretudo, façam um pacto de fidelidade aos problemas um do outro. O casal é a base da família. Se está forte, todo o resto será beneficiado”, diz Bray.

Nesse quebra-cabeça, as famílias “recasadas” ainda se sentem incertas sobre seus papéis.

Entre essas discussões, uma das mais comuns é o papel da madrasta. Na tese Mães e Madrastas: Mitos Sociais e Autoconceito, Denise Falcke, psicóloga e terapeuta de casais da PUC do Rio Grande do Sul, mostra quanto é difícil para a madrasta saber qual é o papel dela na família. Elas se sentem perdidas.” Denise constatou que as mulheres costumam ter mais ciúme que os homens e se colocam em desvantagem em relação aos filhos dos companheiros.

É mais comum a mulher ter ciúme e formar “triângulos” com o marido e os enteados que o padrasto com os filhos da mulher. Psicóloga e autora dos livros Quando o Homem da Sua Vida já Tem Filhos e 100% Madrasta, a paulistana Roberta Palermo criou a Associação de Madrastas e Enteados, que organiza encontros e palestras sobre o tema. No fórum do site da associação, madrastas trocam experiências e fazem desabafos quase sempre muito parecidos.

Uma delas, em crise, escreve que o enteado adolescente resolveu morar com eles “logo agora que meu marido resolveu reverter a vasectomia para termos nosso bebê!”.

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